A Central de Abastecimento e a força eleitoral que ela tem

Vilas-Boas e Mário Alexandre
Reprodução

Se de fato há uma certeza sobre a tão rápida reabertura da Central de Abastecimento do Malhado, em Ilhéus, é de que a pressão com protestos públicos dos feirantes ocorridos ontem, funcionou. Houve um "recuo tático" tanto da Prefeitura como por parte do estado.

De há muito, a feira é considerada uma área que precisava de uma ação efetiva no combate à pandemia. Muita gente circulando (muitos, sem máscara), barracas coladas uma a outra, mercadorias no chão e, claro, condições de higiene questionáveis. Isso, no entanto, não é um fato novo. São condições de uma obra feita na década de 1980 e que até hoje permeneceu como no dia de inaugurada. Mas ao enfrentar a pandemia do novo coronavírus, as autoridades passaram a ter um outro olhar sobre o espaço e uma necessidade (pelo menos aos olhos do grande público) da sua reorganização.

A prova de que houve recuo tático considerando, inclusive, que estamos em ano de eleição, está nos discursos para a reabertura, 24 horas depois da interdição. Sem ter feito absolutamente nada para melhorar as condições da Central de Abastecimento, a Prefeitura anunciou que ela volta a funcionar já neste domingo. E promete para a "próxima semana", um programa de distribuição de EPIs entre os feirantes e a instalação de novas barracas no local. Até lá...

A versão do secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, é outra. Quando anunciou a interdição, disse com muita autoridade que o espaço só voltaria a funcionar depois que o prefeito Mário Alexandre resolvesse todas as condições técnicas da feira. Quem conhece a Central de Abastecimento sabe que os problemas são muitos.

Mas de acordo com o secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, segundo postagem feita esta madrugada no Twiitter, a feira será reaberta hoje por que a prefeitura fez os ajustes determinados pela Vigilância Sanitária Estadual. Afinal, quais foram as mudanças? Que ajustes são mesmo estes? Faltou explicar.

De acordo com Vilas-Boas, as barracas dos feirantes serão montadas ao longo da avenida com três metros de distância entre elas.

Portanto, ao instalar as barracas na rua, os governos - municipal e estadual - reconhecem que nada foi feito no interior da Central.

Se há uma informação alvissareira dada pelo secretário Fábio Vilas-Boas está o fato de que, hoje a tarde, os bombeiros que atuaram na desinfecção dos espaços coletivos do Hospital Regional Costa do Cacau irão fazer o mesmo serviço nas instalações da feira, usando água com hipoclorito. Bares e restaurantes permanecerão fechados.

O secretário também anunciou que a sua equipe vai monitorar o funcionamento e a Polícia MIlitar estará presente no dia de hoje. "Se houver descumprimento das normas, a central será interditada definitivamente".

A recuperação da Central de Abastecimento do Malhado é um desejo antigo do prefeito Mário Alexandre. O mesmo sonho dos seus antecessores. Desde sua posse, o então secretário de Industria e Comércio, Paulo Céo, tentava viabilizar a reforma. Chegou, inclusive, a conversar com indústrias de tintas de parede para viabilizar a parceria. Não avançou.

Naquele espaço há um importante filão de eleitores, que poderão ser decisivos no próximo pleito. O local conta com mais de 1.800 pontos comerciais fixos e cerca de 500 proprietários (muitos têm ilegalmente - já que se trata de concessão - mais de um ponto comercial). Deste total, cerca de 300 são de pequenos agricultores que residem na zona rural de Ilhéus. Há associações organizadas que representam comerciantes de lojas e feirantes.

Ontem, foi grande a repercussão do fechamento do espaço. O debate dividia os que defendiam a paralisação para melhorar as condições e a higiene do espaço e os que entendiam que pequenos comerciantes precisam do espaço - especialmente neste momento de pouca circulação de pessoas - para garantir a sobrevivência.

O fato é que a Central está reaberta e nada - ou quase nada - foi mudado por lá em 24 horas. O perigo de contaminação no local acabou? Esta é a resposta que ficou sem ser dada pelas autoridades.